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sábado, 8 de janeiro de 2011

Guiné-Bissau, um lugar que se encherá do conhecimento da glória de Deus.

Guiné-Bissau, um lugar que se encherá do conhecimento da glória de Deus.
Introdução   
Perto da minha casa foi enterrada uma feiticeira. Ela pertencia à etnia mancanha e
era “dona de irã”, ou seja, dona de espíritos maus. Durante sua vida ela escravizou muitas
pessoas à vontade dos espíritos que a dominavam. Quando mandava que se fizesse um
casamento, ninguém discutia. O casamento era logo realizado, independentemente de
qualquer obstáculo, mesmo que fosse entre um homem idoso e uma menina adolescente. Se
ela afirmasse que alguém tinha que pagar ao “irã” certa multa, a pessoa o fazia mesmo que
ficasse cheia de dívidas. Quando ela visitava um doente que estava mal, fazia certas
cerimônias e por vezes declarava que o doente já morrera. Nesses casos, segundo ela, a
alma já se fora e apenas um “irã” ficara no lugar da pessoa. Sendo assim, a família parava
de alimentar o doente para se livrar do “irã”.
Finalmente a feiticeira morreu. Em seu funeral foram sacrificadas 106 vacas e 203
porcos. Foi preparada uma cova de três metros de fundura, com três metros de
comprimento e dois de largura totalmente cimentada. Um colchão da melhor qualidade
vindo da Europa foi colocado dentro e coberto com muitos tecidos finos. E a mulher foi
deitada lá, vestida em suas melhores roupas e cheia de jóias de ouro.
Isso tudo aconteceu não em algum século remoto, mas em pleno século XXI. É
apenas um exemplo do tipo de escravidão que ainda prende milhões de pessoas em todo o
mundo.
O povo mancanha é uma das 27 etnias da Guiné-Bissau. Trata-se de um povo não
alcançado pelo Evangelho, de cultura fortemente animista (crê em espíritos), cuja
população vive sob o terror dos “irãs” e a influência dos feiticeiros. É uma comunidade
com apenas algumas dezenas de milhares de pessoas, mas que fazem parte daqueles a quem
Jesus mandou discipular. Afinal, o desafio é Cristo aos extremos da Terra.
Quando penso nesse desafio, uma palavra que me ajuda a captar sua grandiosidade é
a pequena preposição “até”. Essa preposição indicativa de limite aparece freqüentemente na
Bíblia. Antes de ser aplicada a nós em nosso envolvimento com Missões, ela é aplicada a
Jesus da forma mais grave. Ele se fez carne e foi obediente até a morte, e morte de Cruz
(Filipenses 2.8). Ele nos amou, e seu amor foi até o fim (João 13.1). Até a cruz que nos
traria a salvação. É nesse contexto que logo a seguir o “até” aparece ligado à nossa parte da
missão e requer três perguntas: Até onde? Até quando? Até quanto?
Até onde?
A primeira questão – Até onde? – nos fala sobre a abrangência da Missão. Até
onde devemos ir? Até onde a igreja precisa chegar? E a resposta da Palavra de Deus é clara:
“Até os confins da terra” (Atos 1.8); até que haja discípulos de todas as etnias (Mateus
28.19); até que todos os povos tenham recebido testemunho (Mateus 24.14). É Cristo nos
extremos da terra.
Passados, porém, 2.000 anos dessa ordem, ainda não conseguimos cumpri-la. Os
estudiosos nos falam de milhares de povos não-alcançados, de centenas de milhões sem
nenhum testemunho. E o desafio se torna quase avassalador.
A abrangência da tarefa é geograficamente enorme. Precisamos alcançar os confins
da terra. A Igreja de Cristo não existe apenas para celebrar nos domingose e se alegrar na
salvação. Tampouco é um centro de atividades, clube de amizade ou organizadora de
conferências. Tudo isso pode existir e ser bênção, mas a igreja cessa de ser igreja se não for
missionária. E uma igreja não pode ser missionária sem levantar os olhos aos confins da
terra.
Esses extremos – até onde devemos ir – começam nos confins de nossas cidades.
São extremos de pobreza, de ignorância, de falta de condições. Mas vão também aos
extremos de nosso país, ao Nordeste carente, aos indígenas esquecidos, ao Sul opulento e
espírita. São nossas favelas, nossos moradores de rua os extremos, os confins.
Mais ainda, esses extremos passam necessariamente por povos como os mancanhas,
que não poderão crer se não ouvirem. São povos que vivem nos extremos geográficos do
planeta, nos confins do mundo, sem recursos tecnológicos, sem ligação ao mundo externo,
esperando que o “Ide” de Jesus seja cumprido. Até onde devemos ir? Até aos extremos da
terra!
Até quando?
Até quando? Qual o limite de tempo a empregar? Até que ocasião se espera nosso
envolvimento? Se o “até onde” nos fala da abrangência da missão, o “até quando” nos fala
sobre a perseverança da Missão. O Senhor responde à nossa questão quando diz que
devemos perseverar até o fim (Mateus 10.22). Somos chamados a usar nosso tempo de
modo sábio (Salmos 90.12; Efésios 5.16) e a aproveitar o dia, antes que a noite das
impossibilidades chegue (João 9.4).
Missões depende de nossa utilização do tempo. Até onde estamos dispostos a
assistir ao jogo de futebol na TV? Até quando assistimos o filme no cinema? A resposta
normal será: até o fim. Por que, então, nossa perseverança em algo tão mais valioso é tão
pequena? Lidamos com missões como se fosse um negócio e queremos resultados rápidos e
vantajosos, e se eles não vêm, desanimamos e os deixamos. Quantos projetos missionários
parados pela metade, quantas vidas envolvidas superficialmente.
Essa é, em boa parte, a tragédia de missões. Pegamos no arado, mas não estamos
dispostos a ir até onde o Mestre mandar ou ficar até quando Ele desejar. Sua própria
classificação dessa atitude é bem clara: “Não é apto para o reino” (Lucas 9.62).
Logo, é tempo de nos envolvermos até o extremo. Não apenas numa ou outra
campanha missionária, mas o ano todo. Não apenas alguns dias, mas a semana inteira.
Usando nosso tempo no cumprimento da Missão dentro de nossos dons, talentos e
oportunidades dados pelo próprio Deus permitindo que a glória do Senhor nos use como
canal de bênção para chegar a outros.
Até quanto?
O que nos leva à última pergunta relativa à Missão: “Até quanto?”. Até quanto devo
investir de mim mesmo? Até quanto devo dar? Aqui tratamos da intensidade da Missão.
Até quanto Jesus deu? Ele deu tudo; até a vida! E foi Ele que nos disse que “quem quiser
salvar a vida pelos padrões do mundo a perderá, e quem a perder pelos padrões do mundo
a ganhará” (Mateus 16.25).
É surpreendente o número de crentes aparentemente fiéis, membros de boas igrejas,
que consideram um “desperdício” um jovem com boa formação que se dedica à obra
missionária. Como se para Missões devêssemos mandar apenas os menos adaptados, os
limitados ou mal-sucedidos em nosso meio. Diante da questão “até quanto”, eles
respondem: o mínimo possivel.
No entanto, se quisermos ser bíblicos e não embarcar na moderna teologia da
prosperidade que fez de Deus um mero servo do crente, deveremos entender que o “Até
quanto?” é respondido biblicamente de forma bem diferente. Até quanto devemos dar? Até
nos darmos a nós mesmos (2Corintios 8.5). Até entendermos que é mais bem-aventurado
dar do que receber (Atos 20.35). Até o ponto de negarmos a nós mesmos (Marcos 8.34),
pois afinal, de que serviria ganhar o mundo todo e perdermos o essencial (Marcos 8:36)?
Se fazemos parte daqueles que querem ver Cristo chegando aos extremos da terra
precisamos entender que a Missão requer intensidade máxima. Até o limite. Damos por
gratidão, damos por alegria, damos com entendimento. Damos nossas posses, mas,
sobretudo, damos nossas vidas, pois de pouco servirão as ofertas sem nosso real
envolvimento. Até quanto? Até que o coração pulse no ritmo de Deus ansiando que a
“terra se encha do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Habacuque
2.14).
Conclusão
A Igreja de Cristo nunca teve tantos recursos humanos e materiais para completar a
Missão como hoje. Mas ela só será cumprida e Cristo só chegará aos extremos da terra
Quando entendermos que essa tarefa exige nossas vidas como um todo. Imaginemos um
Grupo de 100 crentes. Será legítimo pensar que nesse grupo o Senhor chame pelo menos um
Para a obra missionária. Será também aceitável pensar que os outros 99 poderiam assumir
seu sustento material e em oração. Isso não é pedir muito; é mesmo bastante razoável. Ora,
os batistas brasileiros são cerca de 1 milhão. Se cada grupo de 100 fizesse isso, teríamos
dez mil missionários! A verdade, porém, é que nem o Brasil evangélico inteiro tem esse
número de missionários.
Até onde deixaremos que nosso conforto valha mais que as almas sem Cristo? Até
quando permitiremos que nossos dias se passem sem a sombra da Glória de Deus? Até
quanto investiremos nesse mundo que tudo corrompe e gasta? Depende de nós. Cristo
precisa chegar aos extremos da terra. Ele não virá em carne para fazê-lo. Já o fez uma vez e
seu sacrifício foi cabal. Para que chegue hoje aos confins do mundo Ele precisa ir em mim
e em você. Se deixarmos o Espírito Santo trabalhar, isso é possivel. Iremos até onde Ele
mandar, até quando Ele quiser, sendo tudo quanto Ele nos criou para ser. Então – e só
então – Cristo chegará aos extremos da terra.
Autores:
Pastor Joed e Ida Helena Venturini de Souza, missionários das igrejas batistas do Brasil
através da JMM na Guiné-Bissau

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